Sementes da descaracterização e destruição 

Sementes da descaracterização e destruição 

Novamente o IBDF em evidência!  

Por sinal um Instituto de altos e baixos ecológicos.. 

Há pouco tempo apelava à Adea para lutar pela integridade do Parque Nacional do Iguaçu. 

Entretanto… 

Suas últimas ações justificam o epíteto pejorativo de Instituto Brasileiro de Devastação Florestal. 

Teoricamente, deveria ser um órgão sério, criado para proteger a flora e fauna desse imenso território brasileiro! 

Assim sendo, seus dirigentes não poderiam de forma alguma ter feito pronunciamentos tão levianos, como aqueles aos jornais Correio de Notícias (12/04/88) e Gazeta do Povo (24/04/88). 

Tanto o senhor secretário-geral do IBDF como o senhor diretor de Parques Nacionais e Reservas Equivalentes, ignorando princípios fundamentais de Ecologia, comprometeram-se defender uma causa inteiramente oposta aos reais objetivos da instituição que dirigem. 

O IBDF mais parece um catavento ao sabor dos ventos inconstantes da política de mandos e desmandos, de um nunca acabar!… 

Lamentavelmente, o organismo não possui filosofia de ação para garantir uma política sadia e sólida no “manejo” ou no trato do problema florestal brasileiro e, muito menos no que diz respeito aos Parques Nacionais. 

O investimento em cargos de confiança não implica e, muito menos justifica o cometimento de atos não meritórios e politiqueiros, como aqueles da alteração da legislação florestal em vigor, para viabilizar uma reformulação dos Planos de Manejo dos Parques Nacionais, permitindo a adoção de subterfúgios insustentáveis, como por exemplo o dos “antecedentes históricos das reservas brasileiras” e a mudança do conceito de “Zona Intangível”, possibilitando a desfiguração de nossas Unidades de Conservação. 

Trata-se de mais um instrumento escuso que se colocaria a serviço de políticos, comerciantes e industriais mal intencionados para desfigurar o que a muito custo se conseguiu preservar de nossa flora e fauna! 

A ignorância do papel funcional e o comprometimento com os setores politiqueiros que defendem a abertura da Estrada do Colono é tão grande que o secretário-geral do IBDF declarou que a “Estrada do Colono é tão nefasta como a das Cataratas” …e… “se formos levar a questão por este lado, nós teríamos que interromper a estrada daqui, fechá-la e proibir o tráfego de veículos por ela” (Sic). 

Com o pronunciamento acima o senhor secretário-geral revela total desconhecimento do conceito de Zona Intangível e de Uso Intensivo que envolve as referidas estradas. 

Verdadeiro absurdo (maldade) constitui a seguinte declaração do senhor secretário-geral, a qual choca-se profundamente com as funções do “órgão máximo de proteção florestal”: 

“0 parque pode ser um encalhe no interesse da comunidade” (Sic). 

Ainda mais (malandragem):  

“Os parques nacionais e as unidades de conservação, de uma maneira geral, não podem ser tratados como ilhas de conservação” (Sic). 

Isto confronta toda Política Nacional do Meio Ambiente, bem como o Código Florestal Brasileiro, Lei de Proteção à Fauna, o Decreto de Regulamentação dos Parques Nacionais, Brasileiros e as diretrizes dos órgãos governamentais do meio ambiente. 

Caso prevaleça a lamentável e imoral opinião do senhor secretário-geral do IBDF, qualquer grupo econômico pode solicitar a total desfiguração de uma área de preservação por estar “atentando contra os interesses da comunidade”, 

Abririam-se assim as portas à descaracterização dos parques e reservas com a permissão de construção de estradas, barragens, linhas de transmissão, etc. etc. 

A diretoria de parques chegou ao cúmulo de investir trinta mihões de cruzados numa pesquisa tendenciosa para tentar provar que a destruição do parque aumentou após o fechamento da Estrada do. Colono. 

Na verdade, o que se colocará em evidência é um fato sumamente conhecido, que sempre aconteceu, desde a criação do parque, isto é: a caça e pesca clandestinas aliada à atividades de roubo de palmito e xaxim no interior do parque, entre outras. 

A causa real dessa situação é a insuficiência de fiscalização, fato este antigo e não recente como se quer impingir. 

Não houve um aumento dessas atividades ilegais após o fechamento da Estrada do Colono; apenas os próprios defensores da sua abertura providenciaram que os fatos viessem • luz, denunciando-os intencionalmente, deles se utilizando para enganar a opinião pública. 

O insignificante contingente de caçadores e lenhadores que passou a agir em represália a decisão judicial de interdição da mesma foi incentivado pelos prefeitos, políticos líderes das comunidades da região, alguns dos quais já estão respondendo a inquérito policial por. 

Os defensores da estrada procuram a todo instante correlacionar fatos e acontecimentos absolutamente independentes ao fechamento da estrada. Assim a quase erradicação do Palmito, processo que vem desenvolvendo-se há anos, pela extração clandestina, passa a ser “de”nunciado” como uma reação da população ao fechamento da estrada. Argumentos maldosos como este, revelam apenas que só agora uma realidade há muito criada, é publicamente constatada. 

O uso de argumento inverídicos, como transformar em centenária uma estrada iniciada no máximo, no máximo da década de 1950, serve apenas para manipular a opinião pública e instigar o povo contra decisões de governo e da Justiça onde argumentos facciosos como estes serão desmascarados já que apenas sustentam-se na docilidade do papel em tudo aceitar e na irresponsabilidade dos pronunciamentos, não resistindo uma crítica séria. 

A luta pela manutenção da interdição da Estrada do Colono, pela Preservação do Parque Nacional do Iguaçu e pelo real cumprimento da Legislação Ambiental, Brasileira não está isolada a um “pequeno grupo de ecologistas radicais” como estes senhores têm feito opinião pública acreditar, por intermédio de notas tendenciosas e parciais junto aos meios de comunicação. 

71 entidades, culturais, científicas, ambientalistas, estudantis, partidos políticos, associações profissionais, através de seus representantes legais subscreveram manifestos pela manutenção da interdição da referida estrada que foi remetido ao excelentíssimo Ministro José Dantas, juíz relator do processo no Tribunal Federal, bem como ao engenheiro florestal Luciano Pizzatto. 

O senhor prefeito municipal de Medianeira e o senhor secretário-geral do IBDF chegaram ao cúmulo de questionar a validade do poder judiciário, afirmando que a interdição foi um erro judiciário e um procedimento inócuo. Finalmente, queremos salientar a declaração do secretário-geral do IBDF. José Carlos Carvalho; à Gazeta do Povo (24/04/88): “Teremos vida curta no IBDF e queremos deixar a nossa semente”. Realmente, ao que parece os dois senhores deixarão para as gerações vindouras suas sementes: a semente da descaracterização e destruição de todo o nosso patrimônio natural contido nos parques nacionais, reservas biológicas e outras unidades de conservação. 

(João José Bigarella, professor da UFPR, geólogo, presidente da ADEA). 

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