Várias denúncias chegaram à ADEA, de que na reunião antiecológica de Guaraqueçaba, foi servido lauto banquete, cujo prato principal representou o sacrifício. de trinta saudáveis e agora saudosos jacarés.
Ao receber a denúncia ficamos a princípio céticos em acreditar que tal barbaridade pudesse ter sido cometida pelas autoridades, contra belos espécimes de uma fauna ameaçada de extinção.
Infelizmente, a denúncia é verdadeira!
Lamentamos que nessa malfadada reunião os edis estivessem preocupados em atentar gravemente contra a legislação especial que pretende proteger o litoral. Não bastasse isto, também contra a pacata fauna de répteis anfíbios que desempenha papel importante no equilíbrio do ecossistema.
A caça aos animais silvestres está proibida por lei. O banquete de jacarés constituiu-se em ato criminoso, sujeito às penalidades da lei. Isto se a lei também for aplicável a quem detém o poder. Via de regra, não o é! Assim a edilidade pode ficar tranquila… a menos que o poder público crie brios, procedendo de acordo com os protocolos legais.
Em torno do prato proibido – jacaré os políticos tanto da situação como da
oposição, confraternizaram-se como se entre eles nunca tivessem existido divergências.
Aliás, nos momentos oportunos ambos se dão as mãos na luta contra o meio ambiente, seja ele fisico (orla marina) ou biológico (jacarés).
A ‘bacanal” de jacarés teve um significado muito especial. Foi como se representasse um símbolo ou um carimbo que marcou o tipo de homem público, que maneirosamente tende para o lado das vantagens próprias ou de outrem e, não daquelas do município.
Quais os prefeitos que se preocuparam ou se preocupam com o assoreamento inevitável da baia de Paranaguá?
Quais os prefeitos que se colocaram ao lado da Adea em sua luta quase que inglória pela preservação da cobertura vegetal da Serra do Mar?
Estes assuntos ultrapassam a capacidade de visualização da maior parte da edilidade litorânea, bem como daquela dos planaltos paranaenses.
Os edis parecem estar mais preocupados com os negócios de uma minoria poderosa, a qual não se interessa com o que possa acontecer ao ambiente onde vive uma comunidade indefesa.
Os atos de rapinagem são até mesmo “subsidiados” pelo poder público em detrimento do próprio município.
É preciso colocar um ponto final nestes procedimentos dúbios, porém capazes de reunir políticos antagônicos em torno de metas antiecológicas!
Voltemos aos jacarés…
É sobejamente conhecida a luta pela preservação do Pantanal Mato-grossense, como ecossistema típico e como verdadeiro paraíso animal. Os meios de comunicação tem continuamente se manifestado contra a ação de oportunistas e contrabandistas que •••’ destruindo a fauna, principalmente aquela dos jacarés. Inclusive o próprio Ministério do Exército colocou-se ao lado da defesa do ecossistema intervindo na região em questão.
As notícias na televisão, no rádio e nos jornais vem enfatizado a necessidade da proteção aos jacarés, entre outros animais.
Elas sem dúvida, também, devem ter chegado ao conhecimento de toda edilidade.
Entretanto, os edis parecem não ter se conscientizado ou sensibilizado pelo assunto.
Lamentamos profundamente que isto seja verdadeiro, uma vez que os participantes da reunião de Guaraqueraba não tivessem escrúpulos ou remorsos ao fazerem um repasto de jacarés. Refeição esta proibida por lei!
As denúncias que chegaram à Adea, também devem ter chegado ao ITC, IBDF, Polícia Florestal e Delegacia do Meio Ambiente. Assim sendo, estes órgãos devem ter igualmente conhecimento da contravenção penal cometida pelas autoridades municipais ao solicitarem um cardápio a base de jacarés!
Quais os procedimentos providências tomados pelos órgãos de fiscalização acima mencionados?
Ou irão eles agir exclusivamente contra o restaurante que tem em seu cardápio jacaré?
Ou irão eles admitir e perdoar a cumplicidade da edilidade?
Serão eles realmente efetivos para coibir os atentados contra a natureza perpetrados pelas autoridades?
A Adea encontra-se na expectativa e pede dos órgãos responsáveis pela administração dos recursos naturais que sejam mesmo responsáveis e que se posicionem publicamente contra ou a favor do apetite antiecológico dos edis!
É chegado o momento de todos se compenetrarem da necessidade de defender o meio ambiente e de manter preservados os diferentes ecossistemas, de forma intacta e mesmo intocável, para o benefício da própria humanidade!
(João José Bigarella, geólogo, professor da UFPR e presidente da ADEA).
Gazeta do povo,
15/12/83
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