A Fragilidade da Serra do Mar e a BR-277

A Fragilidade da Serra do Mar e a BR-277

O problema da fragilidade da região serrana da fachada Atlântica do Paraná preocupa-nos de longa data. Em fins da década de 50 e no começo da de 60, elaborávamos o mapeamento geológico da Baia de Paranaguá e das regiões circunvizinhas. Os estudos então realizados, demonstravam e confirmavam o grave e sério problema da instabilidade das vertentes da Serra do Mar. Logo em seguida, procedíamos ao estudo submarino da referida baia, que nos forneceu subsídios importantíssimos para iniciarmos campanhas em prol da defesa da Serra do Mar. 

Em 1974, proferimos no curso da ADESG conferência que foi publicada sob o título ” Segurança Ambiental uma questão de consciência… e muitas vezes de Segurança Nacional” Em 1978, nossa equipe de trabalho publicou um livro técnico científico intitulado “A Serra do Mar e a porção oriental do Estado do Paraná”. Através de farta documentação sugeria-se a proteção urgente da floresta pluvial tropical que reveste a imponente paisagem serrana. 

Em julho de 1975 os 80 participantes do Simpósio Internacional do Quaternário, entre eles 45 especialistas procedentes de 19 países, visitando e estudando a Serra do Mar, foram unânimes em recomendar ao governo a preservação do seu revestimento florestal, a fim de evitar ocorrências catastróficas imprevisíveis semelhantes aquelas que ocorreram na Serra Araras, na serra de Caraguatatuba na região de Tubarão. 

Tiveram os estudos realizados alguma utilidade? 

Foram eles capazes de influir na política governamental? Não! Os órgãos do governo (salvo poucas honrosas exceções) não possuem consciência ecológica de Segurança Ambiental. É mais fácil aos administradores medíocres culparem as chuvas ou o lago de Itaipu pela destruição de rodovias ou quedas de barreiras, do que interessarem-se de fato pela gravidade do problema ambiental. 

Nestes órgãos, é lamentável a falta de sensibilidade aos problemas ecológicos. O poder público de forma alguma pode alegar ignorância das consequências dos desmatamentos indiscriminados que vêm acontecendo continuamente no Paraná sob patrocínio dos órgãos competentes. 

Após os desmatamentos na Serra do Mar os problemas não demoraram a surgir, com a instabilização das vertentes por onde passa a BR-277. Apesar dela ser uma rodovia moderna, apresenta mais problemas do que u centenária Estrada da Graciosa que atravessa uma serra pouco degradada. 

A interdição da BR-277 no trecho serrano em fins de julho passado, sem dúvida, foi causada pela destruição da floresta. 

Todo dia que passa, surge nova clareira na serra ou um rancho é construído com o beneplácito dos órgãos competentes ou com o apoio de especuladores ou de membros do Poder Legislativo. Na verdade… 

O desmatamento da Serra do Mar constitui um ato criminoso contra a Segurança Ambiental e consequentemente contra a Segurança Nacional, pelos múltiplos aspectos da questão. São problemas que dizem respeito aos danos causados. às vias de comunicação, à estrutura portuária e às condições socioeconômicas regionais. 

Em seu programa de ação a ADEA vem batalhando pela defesa das florestas da Serra do Mar, não admitindo, portanto, a atuação que os órgãos competentes vêm fazendo, de forma irresponsável em detrimento dos altos interesses do Estado e da comunidade paranaense. A ADEA exige dos poderes públicos federal e estadual medidas concretas que visem a defesa e proteção do patrimônio natural, colocando um ponto final na degradação do ambiente serrano e assim minimizando os danosos efeitos maléficos contra a economia do Estado. 

(João José Bigarella, geólogo, professor da UFPR e presidente da ADEA) 

Gazeta do Povo, 6/8/83 

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