A Adea acredita na boa intenção da Secretaria do Planejamento, do ITC, da Surhema, entre outros órgãos públicos, na busca de soluções para os problemas ambientais que tanto nos afligem, estejam eles na Serra do Mar ou em qualquer outro lugar.
Entretanto, lamentavelmente nunca acreditamos e não podemos acredita na viabilidade de disposições ou intenções governamentais que nunca deixarão de ser transitórias.
Por que ser tão pessimista ?
Não significa ser pessimista, mas realista quando se encara o passado cheio de promessas e desilusões!
Vejamos a farsa do Parque Marumbi.
Na edição de 19/11/1978 da Gazeta do Povo, o governo do Paraná publicava o seguinte:
“Breve aqui uma fábrica de Esperanças.
O Parque Marumbi está criado.
E com ele renascem as esperanças de milhares pessoas que, em diferentes lugares do mundo, ergueram sua voz em defesa da natureza.
Uma vitória de todos que o Paraná teve o privilégio de promover.
E que você tem dever de conservar para sempre.”
Foi um belo palavreado. Mas… passaram-se quase cinco anos e perguntamos:
Onde estão as esperanças das milhares de pessoas?
Onde está a vitória de todos ?
Uma coisa é certa: vamos conservar para sempre o sabor amargo da demagogia faácil e irresponsável. Uma comédia de mau gosto.
O que acontece com o Parque do Marumbi não é novidade, é praxe ! Onde estão as centenas de milhares de hectares de parques já criados no Paraná ? Parques estes que foram tão difíceis de concretizar!?
O governo que responda.
Naturalmente não poderá responder.
Desapareceram do mapa nas “marmeladas” oficializadas em detrimento do bem
comum. Infelizmente somos um povo sem tradições conservacionistas, somos mercantilistas e eloístas.
A Ade espera que os homens públicos de real valor consigam fazer germinar na máquina governamental sementes de “paranismo”… e de amor a nossa terra.
Realmente, falta em nossos dias o amor à pátria, isto é, ao nosso meio ambiente que se chama Brasil! É necessário que mudemos de mentalidade, se quisermos superar nossas dificuldades do dia-a-dia que frequentemente advém da degradação do ambiente natural.
Esperavamos encontrar no Congresso Pro-Implantação do Parque Marumbi unanimidade de pronunciamentos concretos a respeito da defesa da floresta da Serra do Mar, e não sugestões apresentadas, por alguns participantes, sem qualquer fundamento cientifico a propósito do uso controlado do terreno. Foram proposições talvez bem intencionadas, porém, ingênuas que, se viabilizadas, resultarão da devastação total da serra e no entulhamento da Baia de Paranaguá.
É a suposta defesa do direito de outrem – muito discutível ! São direitos de uma minoria insignificante em prejuízo de uma maioria incalculável.
Este pretenso direito coloca em grande risco o corredor de exportação do Paraná. Onde estão os deveres do cidadão ?
Não é com pretensos paliativos ou alternativos lamente duvidosas que vamos resolver o problema da erosão da Serra do Mar. O governo não deve esquecer o que aconteceu no Noroeste do Paraná. A Adea não deseja que a tragédia se repita no litoral. O governo bem sabe o quanto custou aos cofres públicos o desmatamento indiscriminado daquela região tão susceptível a erosão. A Serra do Mar também o é ! Basta isto, para que sé tomem providências e medidas concretas. Um governo inteligente e previdente- seguramente o fará !
É preciso que se pense seriamente nisso que o Estado, ou melhor, a coletividade, tenha o direito de não ser prejudicada e onerada com
sobretaxas para recuperação dos danos causados pela utilização da Serra do Mar por parte de terceiros.
Cada árvore na Serra do Mar representa um investimento da comunidade que minimiza os gastos públicos. Lembremo-nos que o desmtamento da Bacia do Itajaí, em Santa Catarina, rendeu aos particulares 90 bilhões de cruzeiros (valor atualizado) e causou, somente em julho passado, 500 bilhões de cruzeiros em prejuízos!
Temos que assumir uma posição radical a propósito da Serra do Mar, em face dos perigos que resultarão do desmatamento.
Voltemos aos parques do passado.
Eles desapareceram, um a um, com vantagens excusas
a terceiros e com participação do poder público. Até praças públicas foram loteadas…
Agora chegou a vez do Marumbi! Ele caducou, e com isto algo mais caducou… isto é, toda uma filosofia ambientalista centrada no ideal do parque, “que você teria o dever de conservar para sempre” conforme o dito governamental publicado de 1978.
Isto não desprestigia o governo ?
Ainda podemos acreditar nele?
O congresso ofereceu ao governo múltiplas oportunidades de manifestar-se a propósito do parque caducado. Foram apresentadas alternativas discutíveis. Somos radicalmente contra tais alternativas por não acreditarmos no sistema. Já dissemos no começo que a Adea acredita em muitos homens públicos do atual governo. Entretanto, seus mandatos são passageiros. O que eles preconizam. embora pareça muito válido, é labil e inseguro para o futuro. Com respeito à Serra do Mar necessitamos ser radicais, a fim de enfrentarmos a avalanche dos interesses imediatistas e ganaciosos e impedirmos a catástrofe erosiva que seguramente vira !
A esta catástrofe o governo mostrou-se insensível e alheio ao problema, pois nunca lutou e não está disposto a lutar ferrenhamente contra “dragão que detém o poder da floresta”.
O que fazem as bancadas políticas do Paraná em Brasilia?
Seriam elas também insensíveis ?
Queremos supor e esperamos, que os poderes públicos não estejam profundamente envolvidos nesta trama sórdida contra os interesses superiores do Estado e da comunidade, que estão a clamar pelo direito de continuarmos a operar o Porto de Paranaguá!
Não bastaria isto para que um governo consciehte tivesse como bandeira prioritária a preservação da Serra do Mar ?
Não queremos ver o Parque Marumbi, ora caduco, ser transformado num “pacote de intenções” dependente de uma fiscalização precária que sabemos ser insuficiente para evitar invasões e depredações.
O governo também o sabe !
Sabemos igualmente que com o desfecho do Parque Marumbi, ninguém mais segurará a devastação da floresta da Serra do Mar e que terá, sem dúvida, o beneficiário do IBDF, órgão este alheio dos verdadeiros interesses do Estado.
Como poderão as fiscalizações do ITC e da Policia Florestal se sobrepor às decisões de um órgão superior de âmbito federal ? Será uma eterna luta e o grande perdedor, certamente o Paraná
Este tipo de problema parece não sensibilizar O IBDF. Ele esteve propositalmente ausente no Congresso Pró-Implantação do Parque Marumbi.
Sua ausência reforça nossas criticas à atuação negativa deste órgão supremo, orientador da politica florestal brasileira. Para ele é mais fácil ignorar a verdadeira situação ambiental do pais… do que enfrentar o debate público.
O Paraná está de luto pela perda de um de seus maiores anseios: O Parque Marumbi Os “governos do parque” entraram para a história, no fatídico dia dois de outubro.
Entretanto nossa luta não terminou…
Sofremos uma derrota, mas não perdemos u guerra
(João José Bigarella, geólogo, professor da UFPR C. presidente da ADEA).
Gazeta do Povo, 8/10/83
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