Drama das enchentes  

Drama das enchentes  

Estamos assistindo preocupados e desolados a catástrofe das enchentes no sul do Brasil, que tantos prejuízos e transtornos vem causando aos Estados sulinos e às famílias atingidas pelas cheias. 

Perguntamos: Por que isto acontece? 

Quais seriam as causas? 

  O homem influindo? 

Podemos minorar o efeito das chuvas? Para responder a estas perguntas vamos tecer algumas considerações a propósitos dos aspectos meteorológicos. Os fatores condicionantes do clima são múltiplos e complexos. Basicamente dependem da taxa de radiação solar. Esta apresenta variações de intensidade energética devidas a fatores intrínsecos ao próprio sol e à mecânica celeste. São mudanças de natureza cíclica, altamente complexas. 

No passado geológico do Quaternário, as variações climáticas foram tais que de forma natural, transformaram as florestas brasileiras em desertos depois novamente em florestas. Foram mudanças cíclicas naturais que afetaram os centros de ação da atmosfera, modificando por exemplo a distribuição das chuvas e das temperaturas entre outras alterações. 

A atividade do homem no ambiente tem propiciado modificações climáticas de certa importância. Entretanto, não é fácil discernir o que constitui fenômeno natural do que é devido ao homem. De forma periódica os centros de ação atmosférica favorecem ocorrência de secas intensas ou de chuvas prolongadas. 

Quando as chuvas ocorrem durante vários meses seguidos, como atualmente, as consequências são drásticas, principalmente no que concerne as inundações e intensificação dos fenômenos erosivos. 

Sabemos que a ação das chuvas é consideravelmente diminuída numa região coberta de florestas. 

Isto é válido enquanto as condições do subsolo  

permitirem a infiltração das águas. O sistema radicular das árvores evapotranspira, isto é, devolve à atmosfera até mais de 80% das precipitações. Sem florestas o subsolo tende a ficar encharcado, não existindo uma infiltração efetiva das águas das chuvas. 

Atualmente, a maior parte das chuvas que caem no sul do Brasil vão diretamente para o rio, erodindo o terreno e provocando as enchentes. 

O desmatamento agrava consideravelmente o problema das inundações. 

Quando as chuvas são muito prolongadas até a própria floresta não consegue impedir o efeito das enchentes. Entretanto, quando a floresta é destruída o fenômeno das cheias torna-se muito maior. Assim, estaríamos hoje sofrendo menos com as inundações se tivéssemos preservado aquele mínimo de florestas como manda o Código Florestal Brasileiro. 

A solução do problema das cheias é viável até certo ponto, porém seu custo elevado. Muitas obras de engenharia e de urbanização sem fundamento geocientífico adequado vieram agravar sobremodo o problema. Vejamos por exemplo um caso: durante a construção do trecho de várzea da Avenida das Torres a ADEA advertiu a Prefeitura Municipal de Curitiba a propósito do subdimensionamento das obras de arte no trecho em questão. Na construção da avenida não se levava em consideração a urbanização acelerada da região situada para montante e consequente vazão do rio incrementada pela redução da infiltração. Além do mais, aterrava o antigo leito natural do Iguaçu, dificultando assim o escoamento das águas durante as cheias. 

Um planejamento regional mais objetivo, acompanhado de uma diretriz mais adequada do uso do solo, não teria permitido a urbanização de áreas críticas e o desmatamento generalizado, que viria diminuir consideravelmente os enormes danos. aos bens públicos e particulares. 

(João José Bigarella, geólogo, professor da UFPR presidente da ADEA). 

Gazeta do Povo, 28/7/83 

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