A caducidade do Parque Marumbi é um atestado convincente da insensibilidade dos governantes a respeito dos problemas ecológicos do mundo moderno! Não se pode dizer que o governo seja inconsciente. Ele bem que sabe, ou deve saber, dos problemas inerentes ao meio ambiente. Mas, sempre existe um mas… Ecologia não merece prestígio, uma vez que ela ainda não pesa suficientemente na balança das tramas politicas….
De acordo com porta-vozes do governo, o, Parque Marumbi nunca foi considerado de interesse prioritário pelos governadores. Pasmem os leitores! Isto quer dizer que nenhum dos últimos governantes considerou o porto de Paranaguá prioritário para o Estado. O corredor de exportação que se lixe! Com isto os governos criaram uma situação jurídica na qual prevalecem interesses de terceiros contra o Estado. Além disso, os próprios poderes constituídos, com conhecimento de causa, favoreceram esta situação de fato, apesar de terem sido seguidamente alertados pela Adea!
Esta situação é grave e… vox populi, vou Dei! O porto de Paranaguá certamente, não despertou o interesse dos últimos
governos. A prova está ai – o parque Marumbi caducou, sem que surgisse alternativa legal que viesse impedir, em toda Serra do Mar, o desmatamento criminoso, tão prestigiado pelo IBDF, em detrimento da coletividade. Se o desmatamento é permitido na atual conjuntura, o IBDF teria obrigação moral de adaptar a legislação à defesa do interesse do Estado, e não favorecer o dos madeireiros de outros grupos econômicos.
Não é só o Parque Marumbi, mas toda Serra do Mar que interessa preservar, a fim de evitarmos ao máximo o assoreamento da Baia de Paranaguá. Lamentamos profundamente que a colmatagem da Baia venha ocorrer graças à inepcia e despreparo da administração pública. Lamentamos, em primeiro lugar por sermos paranaenses e, em segundo lugar, por termos grande interesse de que o Estado do Paraná não venha sofrer tal agressão por parte do poder público.
Infelizmente, o Parque Marumbi caducou! Com este ato de descaso pelo bem público ambos governos, ambos partidos merecem as mais acerbas censuras. Política não se faz em interesse próprio ou de grupos,
mas sim, nos interesses superiores da coletividade, isto é, do povo paranaense. A caducidade do Parque bem revela • falência administrativa, incapaz, de zelar por um patrimônio precioso e insubstituível, peça tão importante no sistema econômico integrado do Paraná,
Os olhos do mundo estiveram voltados para o Paraná. Eles agora estão aptos a a julgar os ”governos do parque” pela falta de interesse na preservação ambiental, interesse esse representado pela proteção da Serra do Mar. E triste termos que escrever estas linhas, mas
fazemos na esperança de que um dia tenhamos administrações mais úteis ao Paraná.
Em entrevista à imprensa, em nome da Adea, dissemos há cerca de dois anos, que se o desmatamento total da Serra do Mar fosse realizado num curto período de tempo, não poderíamos garantir por mais de 10 anos as condições de navegabilidade dos canais da Baia de Paranaguá. Haveria uma colmatação desastrosa que inutilizaria as instalações portuárias, ou as tornaria enormemente onerosas. Fomos contestados pelo delegado do IBDE- que teve a ingenuidade
de asseverar que o assoreamento do porto não ocorreria em 10 anos, porém em 20! Ainda bem que o IBDF tem consciência da magnitude do problema. Portanto, este órgão federal não pode ficar alheio à catástrofe que representa o desmatamento da Serra do Mar. Assim sendo, porque IBDF não interfere na esfera federal na busca de dispositivos juridico-legais para proteger a serra? E claro, isto ele nunca fará, uma vez que é manobrado, por interesse diferentes daqueles da comunidade.
Este órgão federal, já há muito tempo tem conhecimento dos problemas ambientais relacionados com o desmatamento da Serra do Mar e dos danos consequentes que advirão à economia do Estado. Entretanto, o IBDF omitiu-se, de forma grave, de sua responsabilidade frente ao problema. A Adea não admite tal estado de coisas sem protestar veementemente!
Onde ficam os anseios máximos do Paraná?
Quem vai salvar o principal escoadouro do Estado do assoreamento que o ameaça e que se aproxima tão velozmente? Certamente não será um governo alheio aos problemas ambientais!…
(João José Bigarella, geólogo, professor da UFPR presidente da ADEA).
Gazeta do Povo, 2/10/83
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