Assistimos angustiados a incapacidade dos governos em gerir o patrimônio natural do Paraná. Falamos alto, mas as “rochas” ou corações petrificados do deserto da insensibilidade da ignorância ambiental são moucas… São incapazes de vibrar, mesmo que seja através de sentimentos infinitamente pequenos de paranismo e, por que não dizer, de brasilidade!
Transcreveremos a seguir, nosso pronunciamento na Assembléia Legislativa esperando ouvir algum eco, alguma expressão de que ainda existe patriotismo em nossa comunidade! Senhor presidente deputado Osvaldo Alencar Furtado, senhores deputados, senhoras e senhores.
Agradeço o honroso convite para participar desta reunião da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa. Represento cerca de 50.000 associados da Adea Nacional da Abppolar-PR.
Se aqui vim, não foi para fazer críticas negativas ou destrutivas ao que existe de errado no trato com o meio ambiente.
Não vim tecer elogios ao que de concreto ou positivo tem sido realizado pela administração pública.
Não vim aqui pedir ou mendigar em prol do meio ambiente; mas sim exigir do Governo, isto é dos poderes legislativo, executivo e judiciário, medidas concretas e não demagógicas com respeito aos sérios problemas ecológicos que estão degradando a qualidade de vida do paranaense.
O ambiente em que vivemos, já está consideravelmente degradado e enfrenta crise muito mais séria do que os administradores admitem.
A degradação ambiental vem aceleradamente corroendo as bases da Economia do Estado do Paraná. Sua forma de ação é sutil, persistente, não imediatamente percebida, porém efetiva já a curto prazo.
Salvo honrosas exceções, a administração pública sempre esteve de braços cruzados em face a magnitude do problema ambiental.
Poucos foram os homens públicos que se dedicaram à solução dos problemas que afetam o meio em que vivemos e afligem o homem do campo e das cidades.
Via de regra, os governos usam de subterfúgios para se esquivarem de responsabilidades com respeito ao ambiente e ai eles são irresponsáveis e – por que não dizer? – incapazes de enfrentar o problema. Costumam fazer uma “cortina de fumaça”, para atrás dela se esconderem e acomodarem, como se fossem heróis da defesa dos problemas sociais.
Os senhores já se perguntaram?
Qual a origem dos graves problemas sócioeconômicos do Paraná?
Por que o homem deixa o ambiente rural?
Por que as cidades incham com homens que se marginalizam?
Muitos são os “bodes expiatórios” (multinacionais, condições climáticas, etc. etc.). Porém ninguém vai à causa fundamental do problema, aqui quero energicamente frisar: toda base dos problemas sociais reside na degradação ambiental.
Viaje-se pelo Paraná, para ver o que fizeram deste Estado! Safras recordes de 30% ou mais da produção brasileira são obtidas no que ainda resta de produtivo no nosso patrimônio pedológico.
Elas são ilusórias. Não se enganem os senhores, amanhã não as teremos mais!
E quem é o responsável?
O agricultor?; O governo? Principalmente este, por ser mercantilista, imediatista, antipatriótico, muitas vezes corrupto e irresponsável.
Estamos aqui para exigir a atenção da administração, a respeito dos graves problemas ecológicos que afetam o nosso sucesso sócioeconômico.
É prática geral dos governos, alegarem problemas sociais, para se eximirem de enfrentar a solução de uma situação de fato, que consiste na proteção ambiental.
Assim, o insubstituível patrimônio do Estado, parques, fundos de vale, encostas íngremes e outras áreas de preservação permanente são destruídas, sem que a administração interfira.
Quando interpelado o governo diz puerilmente que não pode causar novos problemas sociais e ponto final!
Isto é vergonhoso. E cômodo. Pois a organização não vai contra seu interesse eleitoreiro imediatista.
E o Estado como fica?
Ele que se degrade, isto é problema para o próximo governo e, assim por diante…
Onde foi a riqueza das regiões outrora férteis?
A erosão que o responda.
A Serra do Mar em geral e o Parque do Marumbi em particular são testemunhas da incapacidade dos governos federal e estadual em gerir nosso patrimônio natural!
Foi convocado cientificamente por trabalhos realizados na Universidade Federal do Paraná, na Adea, e no próprio Estado, que o desmatamento da regido serrana causará sérios danos às instalações portuárias. 45 cientistas e técnicos de 19 países aqui estiveram em julho de 1975 examinando o problema e foram unanimes em recomendar a preservação da Serra do Mar como imprescindível para manutenção do Porto de Paranaguá.
Não basta isto, meus senhores! Todos falamos para as paredes ou para ouvidos moucos.
Ser analfabeto, cego ou surdo é perdoável, mas quem tem ouvido, sabe ler e é capaz de ouvir e não toma atitude digna, é mal intencionado, para não dizer outras coisas mais.
O que Adea-Nacional e Abppolar-Pr pedem é que haja um pouco mais de patriotismo que a administração não seja irresponsável.
Quanto vale para o Paraná e para Brasil o Porto de Paranaguá?
Não tem preço, bilhões ao infinito.
É preciso que governo federal se conscientize disso e não conceda autorizações de desmatamentos em áreas de segurança ambiental e mesmo nacional como vem fazendo diretamente de Brasília, favorecendo interesses políticos escusos de grupos econômicos de outros estados.
Não basta o caso de Itaipu!
O Paraná é um Estado soberano e não uma colônia do Brasil!
E necessário que o Estado tenha mais autonomia no que concerne a proteção dos seus recursos naturais e – por que não dizer? – do ambiente do qual depende a a qualidade da vida do paranaense.
Não toleraremos mais a omissão dos poderes competentes a respeito dos problemas ecológicos. Estaremos sempre atentos, denunciando os atentados cometidos contra o patrimônio do Estado, seja por pessoas, grupos econômicos ou, inoperância dos órgãos do governo.
Por outro lado, colaboraremos com o governo na solução dos problemas ambientais como mandam os Estatutos da Adea.
No dia 5 de maio de 1983 a Adea em Assembléia discutiu os problemas do Parque Marumbi da Serra do Mar. Como resultado da reunião foram propostos subsídios aos poderes legislativos estadual e federal para que viabilize uma emenda constitucional que não venha mais onerar os cofres públicos, permitindo a preservação de recursos naturais de interesse especial, como é o caso da floresta da Serra do Mar, da qual depende a proteção do Porto de Paranaguá.
O texto das emendas constitucionais, tivemos a satisfação de encaminhar ao deputado Osvaldo Alencar Furtado, DD. Presidente da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Paraná.
Esperamos assim que a Adea-Nacional e Abppolar-PR, tenham contribuído de forma significativa na busca de soluções para os problemas ecológico-ambientais do Paraná e do Brasil.
(João José Bigarella, geólogo, professor da UFPR e presidente da ADEA)
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