Afirma-se constantemente que vivemos num país maravilhoso de terras fertilíssimas. Diz-se também que nosso território verdejante possui dos melhores solos para agricultura. Afirma-se igualmente que possuímos grandes extensões de terras aráveis, onde as montanhas são poucas e pequenas! Entretanto, tudo isso não passa de um palavreado ilusório. Pelo contrário, as adversidades geográficas são muitas e as vezes cruciais. Há quem diga que o clima, apesar de sua inconstância, é dos melhores do mundo! Contudo, sabe-se muito bem que as regiões tropicais úmidas são extremamente frágeis e necessitam de muito mais cuidados do que aquelas de climas temperados.
Assim, nem tudo que pode parecer ser melhor ou maior, realmente o é; a não ser nossa presunção e incapacidade de resolver problemas que afetam o meio ambiente, reduzindo seus recursos naturais, com a consequente queda do padrão de qualidade de vida!
Os solos ditos férteis, ou que o foram, não mais mantem uma população adequada na área rural. Verificou-se um êxodo em direção às cidades. A mão-de-obra disponível e tanta, que chega a provocar clamorosos e apressados apelos ao controle da natalidade. Não existe mais uma relação harmônica entre a densidade de população e a disponibilidade de recursos naturais. A paleontologia nos ensina quais foram as
consequências das explosões populacionais sofridas por diferentes espécies animais! No final, o homem não deixa de ser biologicamente um animal, com a diferença de que talvez tenha capacidade para evitar uma catástrofe ecológica que o coloque face do processo de extinção! Levemos isso em consideração nos nossos programas de desenvolvimento. Que este seja racional e não conflita com o meio que suporta nossa vida!
Toda a euforia em torno dos efêmeros ‘booms” agrícolas e dos elogios despropositais a respeito da qualidade das terras, clima, etc., é apenas uma ilusão que encobre precariamente a situação de escassez de alimentos com que nós debatemos. A inflação corrói os orçamentos familiares de forma angustiante. O aumento desenfreado dos preços, sem que ninguém explique por quê, reduz, cada vez, mais a disponibilidade de alimentos, diminuindo as esperanças de um futuro aceitável.
Segundo a maioria dos economistas, a inflação decorre da baixa produtividade e, do aspecto pouco mencionado do empobrecimento do solo, causado pela falta de técnicas apropriadas. Grande parte da população é atingida diretamente no estômago. É o ambiente degradado representado pelo fantasma da fome. É o solo que
passa a produzir cada vez. menos, até tornar-se estéril.
Não nos surpreende pois, que a maior parte do esforço diário do trabalhador destina-se ao
pagamento do alimento, pouco ou quase nada sobrando para o atendimento das demais necessidade. O seu salário desaparece numa simples visita à feira ou ao supermercado!
Hã fome ao lado de desperdício. Se dividíssemos tudo o que o pais produz entre seus habitantes, não teríamos talvez o suficiente para todos! Cada ano que passa, o hectare do terreno produz menos, para fazer face a uma população que aumenta drasticamente. Será que nosso destino é vir ser igual a muitos dos países mais miseráveis do mundo?
Como explicar a pouca produção, se temos terras ociosas e mão-de-obra farta?
Plante que o governo garante! Garante o quê?
Certamente a erosão a degradação ambiental!
Será que seremos obrigados a condenar fome a maior parte da população, para que outra se alimente razoavelmente e uma minoria esbanje os recursos naturais?
Alguma cousa anda errada! Com o ambiente não se brinca, suas respostas não tardam e seu rigor é proporcional à agressão que lhe fazemos. Dai a necessidade de reformas sobretudo na concepção dos que orientam o sistema de produção, e que esta não se afaste da imperativa necessidade de atitudes racionais e objetivas.
Será que o preço do equilíbrio da balança de pagamentos deve ser o dia degradação ambiental,
através da exportação de alimentos produzidos à custa da perda de fertilidade e da erosão dos solos, em detrimento do homem brasileiro?
Não. Sofremos a baixa produção agrícola e a falta de alimentos em virtude de nossa incapacidade em organizarmos racionalmente nosso sistema de produção, aproveitando melhor a abundante mão-de-obra disponível, e tornando produtivas não só as áreas degradadas mas também as ociosas. Se assim o fizéssemos, daríamos à boa parte desta grande parcela da sociedade uma alternativa de vida fora do padrão subumano atual.
Se agíssemos com técnica e ciência, alivariamos o meio urbano pressionado pelos trabalhadores rurais migrantes. Ao contrário do que se diz nosso homem e trabalhador desde que convenientemente preparado. Ele não é o único responsável pela pobreza crônica e pela ignorância.
Sempre foi vítima de administrações completamente desinteressadas no homem do campo!
A Adea está propondo um plano para tentar a solução dos problemas de produção e desvio de mão-de-obra rural, através da ferramenta de educação ambiental integrada.
Ou tentamos alguma cousa ou corremos o risco de ver os problemas aumentarem tanto, que não conseguiremos mais solucioná-los!
Afinal hoje temos homens sem-terras e terras sem-homens e amanhã?
(João José Bigarella, professor da UFPR, geólogo (presidente da ADEA)
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