Veranistas de Guaratuba, principalmente aqueles com filhos pequenos, tem solicitado à ADEA que se pronuncie a respeito dos problemas ambientais da área urbanizada do litoral. Não somos urbanistas, entretanto vimos estudando de longo tempo os aspectos geológicos, geomorfológicos e ambientais do litoral paranaense. Assim sendo, firmamos um ponto de vista quanto a recomendação do uso mais adequado das diferentes paisagens.
Para definir o uso ideal da paisagem urbana litorânea, torna-se necessária a integração de conhecimentos multidisciplinares, que melhor caracterize a orla marinha. Dessa maneira, uma equipe interdisciplinar de profissionais idôneos e capazes, pode contribuir eficientemente num planejamento ecológico de uma cidade balneária.
Cidade balneária não desempenha d função. de cidade comum. Ela deve estruturar-se em princípios diferentes, voltados para o lazer e para o merecido descanso de quem labutou o ano todo! Elas devem ser humanas e não estar sob o jugo oprimente e ditatorial de administradores que ignoram, muitas vezes de má fé, os princípios básicos do bem-estar do homem.
Condenamos a tecnologia egoísta e cruel que desrespeita, e mesmo esquece, os direitos do cidadão. Com isso, não queremos dizer que descartamos os valores da tecnologia, mas que os usemos adequadamente em benefício do homem ou, mais propriamente, da comunidade. Trata-se, pois, de uma questão de responsabilidade social à qual não. podemos fugir, até sob pena de omissão criminosa.
No final, o que que acontecendo de normal em Guaratuba?
O que vem preocupando os veranistas? Sem dúvida, um projeto de construção da Avenida Atlântica, numa extensão aproximada de 2600m, com pista de rolamento de bloquetes de concreto e largura de 12m, além de passeios laterais de 4m. Custo aproximado de mais de meio bilhão de cruzeiros, excluindo-se paisagismo, desapropriações, iluminação e acessos!
Qual a razão desta avenida?
É muito discutível e, mesmo, sem sentido.
Por que trazer o tráfego beira mar?
São perguntas que fazemos e pelas quais não obtemos respostas convincentes! Há os que consideram a praia como uma extensão da cidade. Possuem uma mentalidade de concreto. Interessam-se pelo automóvel veloz, desprezam os direitos do pedestre, da criança, do desportista ocasional. Pleiteiam para a praia todos os inconvenientes da cidade grande. Há os que vêem a cidade balneária apenas do ponto de vista de negócios, isto natural mente sem a mínima preocupação com o ambiente e com o próximo. Avenidas e espigões-constituem a meta, o ambiente e os veranistas que se danem!
Por outro lado, há os que elegem a praia para a temporada de férias escolares. Fazem-no esperando desfrutar paz e sossego. Esperam ficar longe do ruído e do movimento das cidades de origem. Mas…
Por que destruir o ideal da maioria dos veranistas?
Aqui entram os interesses imobiliários. A Avenida Atlântica projetada vai facilitar grandes empreendimentos e especulações.
Voltamos a perguntar: Por que trazer junto à orla marinha um tráfego intenso de veículos?
Por que perturbar permanentemente aqueles que procuram a praia para seu descanso?
Por que colocar em risco a segurança das crianças nas férias escolares?
Porque atrás de tudo isso existe o interesse econômico, etc, etc…
A beira mar merece tratamento especial e o máximo de atenção por parte das autoridades. E aí que se concentram todas as atividades de lazer do veranista, que vem à praia para os banhos de sol e de mar, bem como para praticar esportes. Certamente, ele não terá o seu lazer numa pista de rolamento!
O consenso dos veranistas sugere que o tráfego denso deve ser desviado da praia. A orla deve ser território do pedestre. Nela podem e devem ser implantados equipamentos apropriados a todo tipo de esporte e lazer. Nela deve haver preocupação com paisagismo.
Com este tipo de programa, as Prefeituras das cidades balneárias valorizariam a orla marinha, além de despender soma muito menor do que aquela prevista para construções de avenidas junto ao mar.
Lamentavelmente, entretanto, alguns defendem de forma apaixonada, ilógica e irracionalmente a construção de vias de tráfego intenso dentro da área de lazer propriamente dita, além de preconizarem a construção de espigões em áreas sem rede apropriada de esgotos.
Assistimos neste momento tomar vulto uma tendência altamente nefasta, destrutiva e inconsequente com respeito à integridade ambiental da orla marinha. O interesse econômico arvora-se em intérprete de uma vontade dita “popular”, de forma a influenciar, cabalar, iludir os incautos. Para isso, usa toda sorte de artimanhas, a fim de conseguir o desfecho que pretendem.
Existindo para a orla marinha de Guaratuba uma alternativa menos onerosa dos cofres públicos, bem como mais saudável do ponto de vista paisagístico, por que não adotá-la, principalmente numa época de contenção de despesas?
Aqui vai o apelo da ADEA ao Senhor prefeito e dos vereadores de Guaratuba!
Guaratuba bem que o merece….
(João José Bigarella, geólogo, professor da UFPR e presidente da ADEA)
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