Agrovilas, um programa destinado ao fracasso 

Agrovilas, um programa destinado ao fracasso 

Onde serão localizadas? 

Quais as condições do solo?  

Qual o preparo do homem?  

São algumas perguntas que fazemos àqueles que se preocupam com o problema: 

Por quê? 

Em primeiro lugar sabemos que os solos do Paraná têm sido permanentemente degradados e empobrecidos de tal sorte à provocar o êxodo rural contínuo. 

A grande maioria dos agricultores do Estado e também do Brasil, não possui noções elementares mínimas de conservação do solo e de seus recursos naturais. Assim sendo, eles não estão aptos a ocuparem racionalmente o terreno. Os serviços públicos de assistência ao homem do campo são recentes. Dispõem de pessoal técnico bem treinado e capaz de levar avante um programa de educação rural visando a conservação e manejo do solo, bem como orientar as atividades ligadas ao homem do campo. 

Entretanto, existem pelo menos dois senões extremamente graves. O primeiro diz respeito à resistência do agricultor em convencer-se de que está errado e de adaptar-se à necessidade de preservar seu o patrimônio em seu próprio benefício e também  

no de sua família. O segundo senão, está ligado ao nosso padrão cultural e reflete-se nos responsáveis pela administração. Sabemos que as tradições agrícolas do passado foram válidas para as fases do pioneirismo da ocupação do solo mas não o são mais para O momento atual em que encontramos o terreno totalmente degradado. 

O solo requer longo tempo para a sua formação e desenvolvimento. Este fato é de extrema importância do ponto-de-vista de sua conservação. Seu mau uso pode destruir em curto espaço de tempo o delicado perfil que levou séculos para se formar!  

A produção agrícola do Paraná, embora seja da ordem de 40% em relação à brasileira, faz-se a custa da deterioração e degradação do ambiente. 

É fictícia. A atividade agrícola é nômade deixando para traz solos improdutivos e graves problemas sócio-econômicos. Em consequência o homem do campo migra para outras regiões ou se marginaliza nas cidades. Grandes extensões dos planaltos do Paraná tornam-se improdutivas. Não devemos esquecer que os recursos naturais são limitados. 

Nas condições atuais, o retirante do 

Campo em grande parte constituído pelos “bóias-frias” não lêm possibilidade alguma de fixar-se numa agrovila. Eles não possuem os conhecimentos necessários para poder sobreviver no campo. Propor e implantar agrovilas dentro de nossa tradição cultural clássica é ilógico e anticientífico. 

E então o que devemos fazer se não temos tradição conservacionista?  

Em primeiro lugar devemos fazer uma mudança de base do sistema, mudança essa fundamentada nos princípios de educação ambiental ampla. Devemos ir ao âmago da questão e formular novas proposições mais adequadas ao sucesso. 

A Associação de Defesa e Educação Ambiental apresentou à Secretaria do Planejamento um plano e uma sugestão pura implantação experimental de uma Escola de Ecotécnica programada em moldes não convencionais e com novas idéias desenvolvidas a partir de trabalhos de pesquisa científica. A escola (convênio ADEA-Estado do Paraná) operaria numa fazenda dentro de uma estrutura de agrovila com todas instalações didáticas necessárias. Envolveria a família do “bóia-fria” no aprendizado integrado. Cada família disporia nesta agrovila-escola de uma área para realização dos trabalhos práticos de agricultura e 

de conservação do solo. O ensino abrangeria. alfabetização com ensino de primeiro grau, conservação e manejo do solo, horticultura, fruticultura, criação de animais, economia doméstica. artesanato, educação esportiva-artistica e assistência espiritual. 

Com esta atividade educacional, a ADEA espera poder contribuir para a reintegração do homem no campo, seguida da recuperação dos terrenos já degradados pela agricultura irracional do passado. Com este primeiro passo o problema sócio-econômico seria reduzido através de uma atividade de subsistência, que deveria evoluir economicamente à medida que o solo fosse sendo recuperado. Se esta filosofia de educação ambiental for implantada, temos quase que certeza de ver as áreas que outrora já foram férteis, atualmente improdutivas, serem recuperadas em benefício das famílias hoje marginalizadas, bem como no de toda comunidade paranaense. 

As agrovilas só terão sucesso quando for feito um programa de treinamento Intensivo das famílias dos seus futuros usuários. Recolocar em agrovilas o homem não preparado representa um programa de governo demagógico e, por que não dizer, irresponsável. 

(João José Bigarella, geólogo, professor da UFPR e presidente da ADEA). 

Gazeta do Povo, 30/7/63 

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