Há cerca de 8 anos o povo de Florianópolis vibrou com a criação do Parque das Dunas, situado entre 0 Lagoa da Conceição e a Praia da Joaquina. Foi uma vitória da comunidade tendo em vista a e preservação dos ecossistemas das dunas, aliás o único em Santa Catarina.
A ADEA também colaborou, embora de forma modesta, na concretização desse parque, participando dos esforços feitos durante o Simpósio Internacional do Quaternário, realizado em julho de 1.975. Desta reunião
participaram 40 cientistas brasileiros juntamente com 45 outros procedentes de 19 países. Todos foram unânimes em apoiar e louvar a idéia tão oportuna da criação do Parque das Dunas.
E por que nós, aqui em Curitiba, nos preocupamos com um Parque em Santa Catarina?
Preocupamo-nos com todos os Parques, mas principalmente com este das Dunas, onde durante muitos anos ministramos aulas práticas de campo para os alunos do curso de Geologia da Universidade Federal do Paraná. A respeito desta área publicamos vários trabalhos em revistas brasileiras européias e norte-americanas.
Vejamos em primeiro lugar o interesse científico da área em questão. As Dunas da Ilha de Santa Catarina despertaram grande interesse na comunidade cientifica internacional, sendo memo consideradas como um “modelo geológico” para estudos ambientais. Basta este fato para que as Dunas sejam preservadas, como o foram. Mas… existe um mas. Elas encontram-se ameaçadas por técnicos e políticos desprovidos do menor censo ambientalista.
Em segundo lugar, trata-se de um Ecossistema no qual a Flora e a Fauna são importantes. Os minais que vivem nas Dunas apresentam características especiais. Eles precisam ser protegidos. É a preservação de um estoque genético, mesmo que em pequena área.
O que está acontecendo com as Dunas? Alguém teve a estupida idéia de propor a utilização do Parque das Dunas como área de tratamento de esgoto. A idéia tomou vulto dentro de uma comunidade administrativa, ignorante dos mais elementares conceitos de Ecologia, aplicada ao planejamento regional. Trata-se de má fé, de hipocrisia, de palhaçada? Trata-se de uma opressão cultural aqueles que se preocupam com o meio ambiente.
Por que o poder constituído em Santa Catarina cria e desmancha parques à seu bel-prazer sem que a comunidade se oponha?
A comunidade não pode ser inerte, omissa ou conformista. A Universidade e os estudantes também devem participar de. movimentos ecológicos em benefício do Município ou do Estado.
O comodismo não condiz com o padrão cultural da população. Um povo culto deve saber o que quer. Deve ter noção da importância dos Parques e da preservação da natureza. Não deve sujeitar-se a ter seu ambiente degradado. Quem quererá ir aos restaurantes da Lagoa ou ir à Praia da Joaquina respirar o ar poluído com a aspersão dos esgotos nas Dunas?
Será isto Progresso Ambiental? Dizem, cada povo tem o governo que, merece.
Os administradores encarregados do bem público zombam dos naturalistas. Os técnicos conscientes são mandados “calar o bico”. Por que o órgão encarregado da defesa do meio ambiente de Santa Catarina (FATMA) não se opõe ao projeto tão nocivo ao Parque? Projeto esse que vai borrifar nas Dunas (digo, no ar) os dejetos das privadas, como se na Ilha não soprassem os fortes ventos que originam as Dunas? A ADEA Nacional e a ABPPOLAR-PR apelam ao senhor prefeito municipal de Florianópolis para que inviabilize este projeto absurdo para o bem das comunidades catarinense e brasileira que tanto se sentem atraídas pelas Dunas e Praias da Lagoa da Conceição. Sabemos que é preciso, uma atitude corajosa para sobrepujar os interesses econômicos. Mas vale pena mostrar que Florianópolis de digna de um alto grau de cultura ambientalista e universitária.
(João José Bigarella, geólogo, professor da UFPR e presidente da ADEA)
Gazeta do Povo, 14/7/83
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